O Homem tem tendência para se agrupar de acordo com interesses e objetivos comuns, o que, de acordo com a antropologia, é uma evolução dos movimentos tribais.
Na verdade, o Homem não é uma espécie naturalmente solitária e, mesmo hoje, precisa da sua integração nas “tribos” modernas que podem ser a associação do bairro, o grupo desportivo, o clube de futebol ou o partido político. Pode ser o grupo de jovens, o grupo de voluntários, o grupo religioso ou até outros grupos com fins considerados socialmente menos próprios. No entanto, o que se retém nesta diversidade de opções é a necessidade de se agrupar, de ser reconhecido pelos seus pares, de evidenciar as suas qualidades para serem reconhecidas na “tribo” em que está integrado.
Elevando esta análise para a dimensão nacional, ou seja, para a nacionalidade, para o orgulho de pertencer a um país, para a necessidade de manter as tradições culturais, para a necessidade de comunicar numa determinada língua, facilmente chegamos todos à conclusão que há uma “alma portuguesa”. Todos nós entendemos que há um “sentir português”, que há um significado especial para a palavra saudade.
Mas afinal de contas, se pudéssemos olhar para dentro da alma portuguesa, que conteúdo encontraríamos?
Será a emoção do fadista ao ouvir o trinar da guitarra portuguesa?
Será o companheirismo e a solidariedade dos homens que pisam as uvas no lagar enquanto entoam cânticos para manter a energia?
Será a angústia da mãe que vê o barco de pesca a afastar-se na linha do horizonte sem ter a certeza se volta a ver o filho que partiu para a faina?
Será a coragem do forcado que bravamente se coloca na cara do toiro?
Será o orgulho com que o campino cavalga na lezíria?
Será a alegria das gentes que assistem e vibram com a chega de bois?
Será a emoção das ceifeiras enquanto entoam as cantigas que animam a colheita do trigo?
Serão os sonhos que inundam a esperança e a ambição daquele que olha para o mar e vê novos mundos?
A verdade é que a alma portuguesa é isto tudo e o que mais quisermos, a alma portuguesa está cheia de sentimentos que engrandeceram a nossa história, que nos tornaram um povo único que é capaz das “tripas fazer coração”.
Mas esta alma precisa de ser alimentada, precisa de ser iluminada e precisa de ser orientada por quem sabe fazê-lo como ninguém, por quem cresceu e aprendeu o sentir português, por quem representa este sentir tão próprio e que é só nosso.
Quanto tempo teremos que esperar mais para abrir de forma séria a discussão sobre o que os portugueses pretendem para o seu país? Quanto tempo teremos que esperar mais para eliminarmos a norma menos democrática da nossa lei fundamental e para iniciarmos o debate que verdadeiramente se impõe?
República ou Monarquia?