As eleições políticas são sempre um período que poderia ser denominado eruditamente como a “Era do Ósculo”.
Com efeito, basta ligar a televisão ou passear nas ruas onde andam os candidatos para ver uma distribuição indiscriminada de beijinhos, sem qualquer distinção de género, idade ou classe social.
É consensualmente aceite que os ósculos em senhoras de idade, preferencialmente com algum crescimento piloso facial, ou em crianças com pingos pendentes de muco nasal são notícia mais badalada nos serviços noticiosos em horário nobre. Também é verdade que não está provada a ligação entre estes beijinhos e o incremento de votos, mas mais vale não arriscar e oscular de qualquer modo.
Ora, como é que isto liga com a causa monárquica e o contraponto com a escolha do chefe de estado pela via republicana?
Um olhar mais atento mostra que os candidatos políticos encetam esta atividade muitas vezes sem disfarçar o esforço, ou seja, são pessoas que genuinamente não se sentem confortáveis em ambientes populares. Contudo, para conseguirem a sua eleição regular, esta é uma tarefa incontornável, mas que, em regra, resulta num período pós-eleição, no qual o eleitor é geralmente esquecido, bem como os respetivos ósculos.
Um rei, contrariamente a um presidente da república, não tem que ser eleito, pelo que todas as suas ações junto do seu povo são genuínas e sentidas. Aliás, basta olhar para as monarquias europeias e constatar como os contactos entre o soberano e o seu povo são constantes, sinceros e sem qualquer contrapartida a não ser o orgulho em pertencerem a um país, a uma cultura.
Aproximam-se as eleições para a presidência da república e, tendo em conta o elevado número de candidatos, adivinha-se uma distribuição assinalável de ósculos, mas que têm que ter a contrapartida do voto.
Um rei ou uma rainha quando beijam uma criança apenas pretendem criar um espírito de orgulho nacional e uma atitude de cidadania exemplar.
Beijinhos sim, mas sem votos de volta!