A situação pandémica que vivemos é, apesar da crise, uma oportunidade única de aprendizagem que não devemos desperdiçar.
De facto, o que pode fazer a diferença para a resiliência da Humanidade no futuro é a capacidade para apreender as lições que estas crises globais trazem.
Há umas semanas já tinha escrito que um problema global só se resolve com uma solução global (ver aqui), mas que não estava otimista relativamente à adoção dessa estratégia no combate à pandemia. Inclusivamente, apresentei alguns exemplos que fundamentavam a minha convicção em como a Humanidade não colaborava o suficiente para a resolução de um problema que é de todos.
Como devem imaginar não era o único a pensar assim e alguns dos decisores mundiais também manifestaram de forma explícita a necessidade de adotar uma estratégia diferente no combate a eventuais pandemias futuras. Vejam, por exemplo, esta notícia que refere a vontade de cerca de duas dezenas de chefes de Estado para o estabelecimento de um tratado internacional que regule o combate às pandemias que no futuro voltarão a assolar a Humanidade.
Ora, é um bom princípio, mas temo que seja manifestamente insuficiente, porque estes tratados requerem a ratificação dos diferentes países e, como tal, a sua aplicação global nunca se verificará. Continuo convicto da necessidade de algumas organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde, em determinadas situações, terem poder para definir regras, procedimentos, estratégias de combate a problemas de saúde que afetem a generalidade dos países.
Estamos todos certamente cientes que a atual situação pandémica só fica efetivamente resolvida quando todos os países a resolverem dentro das suas fronteiras. Não vale a pena cada um correr por si porque não chega! Como se costuma dizer, “sozinhos podemos ir mais depressa, mas juntos chegamos mais longe” e de facto o que interessa é “chegar mais longe”. Na prática, corresponde ao mesmo ditado que dá o título a este artigo, mas sem ponto de interrogação.
Mas a verdade é que muitos continuam a ignorar esta sabedoria popular. Vejamos, por exemplo, alguns dados relativos à vacinação contra a Covid-19 que retirei do site Our World in Data atualizados ao dia 9 de abril, ou seja, ontem.
Os países com maior percentagem de vacinação completa da sua população são Israel (57 %), as ilhas Caimão (37 %) e o Barém e os Estados Unidos da América (21 %), ou seja, países que adotaram uma estratégia individual. Em contraponto, a União Europeia com uma população global de mais de 440 milhões de habitantes tem apenas cerca de 6 % da sua população vacinada, ou seja, 10 vezes menos do que Israel e mais do que três vezes menos do que os Estados Unidos da América. A união faz a força? Parece que não!
Olhemos agora para alguns resultados da vacinação completa numa perspetiva global e continental: o Mundo tem cerca de 2 % da população vacinada, o continente americano tem 8 % com uma disparidade de 3 % na América do Sul contra 12 % na América do Norte, o continente africano tem 0,3 %, a Europa tem 5 %, a Ásia 0,8 % e a Oceânia com 0,05 %.
É flagrante a disparidade entre continentes, é flagrante como os números demonstram que a união não tem feito a força.
Reforço que esta pandemia é uma oportunidade para que a Humanidade perceba que há problemas que têm que ser resolvidos de uma forma mais eficaz e que não se compadecem com a decisão, muitas vezes individual e protecionista, de cerca de duas centenas de chefes de Estado.
Fica evidente para todos que quem vai mais depressa são os mais ricos e individualistas, que certamente chegarão mais rápido, mas nunca tão longe como poderíamos chegar se fôssemos todos juntos.