A capacidade de tomar as decisões mais acertadas está dependente de muitos fatores, designadamente da qualidade da informação a que os decisores têm acesso.
Acresce a esta necessidade o facto dos detentores da boa informação, que vou chamar de sábios, não corresponderem aos decisores.
Nestas circunstâncias é fundamental que os decisores sejam capazes de humildemente descerem dos seus pedestais para ouvirem a voz dos sábios.
Recordo a este propósito as palavras de D. Duarte de Bragança em A Utopia e os Pés na Terra sobre o Professor Gonçalo Ribeiro Telles:
“Sempre achei que o Professor estava à frente do seu tempo, o que levou a que muitas das suas ideias fossem aceites muito tempo depois. Infelizmente para Portugal isto costuma acontecer, porque existe um abismo entre quem sabe e quem toma as decisões.”
É precisamente a propósito deste tema que resolvi escrever esta pequena reflexão despoletada por um dos livros que tenho atualmente na mesa de cabeceira e do qual vou lendo algumas páginas de “quando em quando”.
O livro a que me refiro é uma compilação de crónicas do Professor Gonçalo Ribeiro Telles editada recentemente pela Real Associação de Lisboa sob o título “Porque sou monárquico”.
A última crónica que li “Memória e futuro” escrita pelo Professor Gonçalo Ribeiro Telles nas comemorações dos 60 anos do Centro Nacional de Cultura revela toda a sua sapiência e capacidade de síntese para deixar mensagens importantes e decisivas para o futuro do país e que, na minha modesta opinião, não têm sido devidamente ponderadas pelos decisores.
Nesta crónica, em cerca de cinco páginas, é dada uma lição de ordenamento do território virada para o futuro, mas sem esquecer o passado no qual o nosso território está alicerçado, ou seja, são cinco páginas com um conteúdo valiosíssimo e que substitui as centenas ou milhares de outras pertencentes a relatórios e estudos que conduziram o nosso país ao estado atual em termos de desordenamento (o ano de 2017 ficará sempre gravado na memória dos portugueses pelas piores razões).
Em quatro parágrafos é descrita a paisagem portuguesa, bem como a sua importância para os diferentes setores de atividade.
Deixo aqui dois exemplos bem claros:
“As matas de carvalho e o pinhal manso constituem espaços homogéneos que, juntamente com as sebes, valados e muros, também contribuem para fechar os campos de cultura e os prados.”
“Os matos constituem um manto biodiversificado e belo que cobre as áreas de maior altitude, as encostas mais abruptas e os solos mais pobres, tradicionalemente pastados por cabras. São importantes para a permanência da vida silvestre e da caça, para a produção de mel, carne e queijo e poderão vir a servir para o desenvolvimento de uma indústria farmacêutica e de cosméticos.”
Mais uma vez a simplicidade e a síntese, mas sem perder nada do essencial e não sacrificando o rigor técnico da mensagem.
Em resumo, basta fazer aquilo que as sociedades mais primitivas já faziam e nós parecemos esquecer:
ouvir com atenção a voz dos sábios e agir em conformidade.
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